O Renascença Clube tem como seu propósito a valorização da riqueza do legado africano e a promoção da cidadania da população negra, desenvolvendo projetos e ações afirmativas nas diversas áreas como educação, saúde, entretenimento, mercado de trabalho.
O Renascença Clube é um espaço de cultura artística afro-brasileira e do samba, mantendo viva as tradições, hábitos e festividades tradicionalmente negras. Somos um local de resistência que possui o reconhecimento da sociedade carioca.
Rena é lugar de aquilombar!
“Aquilombar foi a estratégia que os nossos antepassados encontraram para resistirem às crueldades da escravidão e, hoje, o nosso Movimento Negro resiste no enfrentamento da crueldade do racismo. O Renascença existe (e resiste) como pioneiro na área social e recreativa, gritando bem alto: NÓS TAMBÉM PODEMOS E NÓS FAZEMOS!”
(Profª Vanda Ferreira)
Passaram-se mais de um século da Abolição da Escravatura e ainda temos muito a avançar nas ações de promoção de igualdade de oportunidades, já que existem grupos que estão em situação de desvantagem histórica, política, pedagógica e psicológica. Por ser o Brasil um país racista, o Estado assume uma política social para a inclusão de negros e populações indígenas. Daí, a necessidade de se preservar os Clubes Sociais Negros, onde estão inseridas as histórias e memórias de uma grande parcela da população negra. É nesses espaços que se constroem a autoestima, a autoimagem e as “identidades negras”. Nos Clubes Sociais Negros, as relações se estabelecem e os conflitos também, pois além de lugares de memória, de construção da sociabilidade e cultura negra, são espaços de legitimação do poder. Os Clubes Sociais Negros são agremiações surgidas no pós-abolição no Brasil.
Em 1951 nascia uma sociedade formada por ousados homens e mulheres negras que tinham como objetivo manter um espaço para reuniões, promovendo festas, bailes de carnaval, organizando grupos de teatro negro, assim como um time de futebol e, foi assim que nasceu o Renascença Clube. Nos seus períodos iniciais, há o destaque para o protagonismo feminino não só presente nos concursos de beleza. As mulheres também participavam das diretorias, o que não acontecia em nenhum outro Clube.
Espaço de referência na construção do combate ao racismo e todo tipo de preconceito, como também, da Cultura de Matriz Africana do Estado do Rio de Janeiro, o Renascença Clube resiste na história sempre buscando se organizar para que nós, afro-brasileiros, tenhamos o direito de sermos nós mesmos, junto às nossas famílias, em todos os lugares. O Renascença Clube foi fundado por cidadãos negros em 17 de fevereiro de 1951, na Rua Pedro de Carvalho, no Méier, já que a eles não era permitido o acesso nas sociedades de brancos. Nesse espaço as famílias negras poderiam realizar reuniões, comemorações, bailes, festas, enfim, restabelecer a alegria que sempre foi à tônica dos nossos antepassados, mesmo nas horas mais difíceis.
O “Rena”, como ficou popularmente conhecido, é um símbolo de resistência e poder da comunidade negra, materializado em um espaço privilegiado que demarca, na cidade, um espaço político, uma vontade, um lugar de memória e de identidade negra. Hoje, o Renascença Clube, no auge dos seus 73 anos, com sede na Rua Barão de São Francisco nº 54, no Andaraí, continua oferecendo um espaço de alegria, compartilhamento e confraternização para as famílias. Na atual gestão do Presidente Alexandre Xavier, juntamente com a sua Diretoria, o trabalho prossegue com o mesmo vigor dos fundadores do Clube que tinham como um dos seus principais objetivos a difusão da cultura, história e das tradições afro-brasileiras.
Anualmente, a programação cultural do Renascença é intensificada durante a Semana da Consciência Negra, quando são homenageadas personalidades que são ou tenham sido responsáveis por ações transformadoras do processo social.
Por essas ações emblemáticas, a Secretaria de Estado de Cultura concedeu ao Renascença Clube o Prêmio de Cultura Afro-Fluminense pela prática de assuntos culturais voltados para os povos e comunidades de matriz africana no Estado do Rio de Janeiro.
Devido ao seu comprometimento com a cultura e o samba, o Renascença é um bem tombado da cidade do Rio de Janeiro, conforme Lei Municipal nº 3033, de 07 de junho de 2000 que declara o Clube como Área de Proteção do Ambiente Cultural – APAC. O Clube também tem sido objeto de teses e pesquisas, o que demonstra a sua importância cultural. O Renascença é polo difusor de cultura, portanto é fundamental resguardar o seu patrimônio.
De acordo com o Decreto nº 50.913 de 01 de junho de 2022 da Prefeitura do Rio de Janeiro, declara o Renascença Clube como patrimônio cultural de natureza imaterial da Cidade do Rio de Janeiro.
A Constituição Federal de 1988, nos artigos 215 e 216, ampliou o conceito de patrimônio cultural brasileiro, ao reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial, estabelecendo o registro e o inventário como instrumentos de preservação desses bens. Reconheceu também, que é preciso incluir, entre o patrimônio dos brasileiros, bens culturais que se referem aos diferentes grupos formadores da nossa sociedade, garantido no Art. 215. §1 que “O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”.
A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu ambiente, de sua interação com a natureza de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim, para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Assim está sendo constituído o patrimônio cultural do Renascença Clube que permite que conheçamos os quadros de referência do passado, percebendo as semelhanças e diferenças na paisagem cultural, constantemente transformada. Esse patrimônio pertence a todos os cidadãos que devem ter o direito e o dever de preservá-lo, como possibilidade de resgate de sua identidade social (dentro de sua comunidade de origem) e individual (frente a frente consigo mesmo). Os Clubes Sociais Negros são meios e lugares de memória por sua imponência material e imaterial. Como lugares de memória, eles nascem e vivem do sentimento, mas é preciso criar arquivos, notariar atas, para que esses Clubes sejam preservados e reinventados para o presente e para o futuro.
O Renascença Clube abriga acervos materiais, verdadeiros “tesouros” da comunidade negra, como: fotografias, documentos, fichas de associados, carteirinhas, quadros de antigos presidentes e de atividades realizadas no interior destes lugares, troféus, dentre outros que ainda podem e devem ser coletados e que fazem parte do imaginário da população negra, quando se trata de relembrar determinadas épocas, festas, vivências e tradições.
Somos uma instituição guardiã dos saberes, das criações artísticas, obras, objetos, documentos da história e cultura do negro na cidade do Rio de Janeiro.