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Sexta-Feira, 30 de Maio

Léa Garcia e sua trajetória marcante em Orfeu Negro
Léa Garcia e sua trajetória marcante em Orfeu Negro
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Léa Garcia (1933–2023) foi uma das maiores atrizes negras da história do Brasil, com uma carreira que atravessou teatro, cinema e televisão por mais de seis décadas. Sua presença imponente, talento refinado e compromisso com a representatividade negra marcaram profundamente a cultura brasileira. Entre seus inúmeros trabalhos, sua atuação em Orfeu Negro (1959) é um dos mais emblemáticos — não apenas por sua performance, mas pela projeção internacional que ela conquistou com esse papel.

No filme dirigido pelo francês Marcel Camus, Léa Garcia interpretou a personagem Serafina, a melhor amiga de Eurídice. Com força dramática e presença cênica, Serafina é uma figura importante na narrativa, trazendo leveza, humor e também profundidade emocional à história. A atuação de Léa chamou a atenção de críticos internacionais e lhe rendeu uma indicação ao prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes em 1959 — um feito inédito e histórico para uma atriz brasileira e negra naquela época.

Vale destacar que Léa já tinha uma ligação com a história de Orfeu antes mesmo do filme. Ela fez parte do elenco da peça “Orfeu da Conceição”, escrita por Vinicius de Moraes e encenada pela primeira vez em 1956, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A peça foi pioneira ao colocar atores negros no centro da cena em um dos espaços mais elitizados e brancos da cultura brasileira. A participação de Léa nessa montagem inicial foi fundamental para a afirmação do teatro negro no Brasil e para a própria consolidação da peça como uma obra de resistência e identidade.

Sua passagem pelo filme Orfeu Negro representou um dos raros momentos em que uma atriz negra brasileira teve visibilidade internacional em uma época de pouquíssimas oportunidades. Ao lado de Breno Mello (Orfeu) e Marpessa Dawn (Eurídice), Léa ajudou a construir uma representação negra no cinema que, apesar das críticas posteriores ao olhar estrangeiro do diretor, foi um marco na história da cultura afro-brasileira.

Ao longo de sua carreira, Léa Garcia seguiu abrindo caminhos para artistas negros. Atuou em novelas, filmes e peças que discutiam temas raciais, sociais e históricos — sempre com elegância, potência e consciência política. Ela também foi ativista e referência nas lutas por mais espaço e respeito para artistas negras e negros no Brasil.

Em 2023, pouco antes de falecer, Léa seria homenageada no Festival de Cinema de Gramado, onde receberia um troféu pelo conjunto de sua obra. Sua morte, aos 90 anos, deixou um legado imenso. Léa Garcia não apenas participou de Orfeu Negro — ela é parte viva da história desse mito no Brasil, ajudando a dar-lhe corpo, voz e, acima de tudo, alma.

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